Campo da dependência química: evoluções, mudanças, reconstruções e novas possibilidades
Por Cláudia Fabiana de Jesus -
clafaje@hotmail.com
Psicóloga e Mestre em Psicologia da Saúde
Vivemos o
fenômeno das drogas na sociedade atual. Vimos alguns discursos sobre a mesma
com foco ainda no terrorismo, na destruição, no mal e, muitas vezes, na
impossibilidade de cuidar disto e de se realizar mudanças. Há um imaginário
social da não credibilidade nas mudanças quando se trata do crack. Vemos na
mídia e nas “verdades ditas” que não dá certo, o que não tem mais jeito, mostra
somente o lado negativo, do que se falhou e das impossibilidades.
Vejo a
partir de minha experiência neste campo, há onze anos, e acredito que deveria
mostrar ou focar naquilo que está dando certo, em vez de focar patologias e no
que parece impossível. As pessoas acabam acreditando que não tem mais jeito.
Esta crença influência a própria pessoa e a sociedade como um todo. Há de se
perguntar: o que se acredita nesta área? Qual é a referência de uma verdade
sobre este assunto? Aquilo que eu acredito se torna verdade... Há muitas
verdades ditas que se tornam verdades absolutas. “A pessoa que entra no crack
morre”, é uma frase que não pode ser generalizada, como qualquer coisa na vida,
pois as pessoas são singulares, tem sua subjetividade. E neste campo se observa
que ainda há muita generalização, padrão estabelecido de comportamento,
receitas prontas para se seguir e idéias pré-concebidas sobre o assunto.
As pessoas
estão desesperadas e se fecham para novas maneiras de se indagar, e, talvez nem
queiram, pois preferem o conforto de uma resposta pronta do que novas perguntas
as quais ainda buscarei respostas. Querem ainda que o outro diga o que ela tem
que fazer para ser feliz... querem ainda alimentar uma dependência. Ainda é
necessário mais espaços de reflexão, é fundamental que o próprio sujeito se
autorize a pensar sobre si mesmo e se questionar. È necessário que haja um
espaço vazio, um espaço de silencio para que a pessoa reflita, e isso não é o
que se vê. Há uma enxurrada de verdades e discursos prontos sobre o indivíduo,
onde ele é quem mais escuta ao invés de falar de si, não somente sobre o que
ele sabe dele, mas ter espaço para descobrir sobre ele. E é ele quem fará por
isto.
Vejo as
pessoas deixando de usar crack, vejo as pessoas que desejam mudanças fazer,
realmente, mudanças em sua vida. Vejo as pessoas deixando de ter relação com a
droga e voltando a ter relação consigo mesmo. Vejo as pessoas vivendo suas
metas e se percebendo além das drogas, álcool e mergulhando no processo do autoconhecimento.
Vejo mudanças nas vidas das pessoas, em meu cotidiano do trabalho, que cada vez
me faz acreditar na capacidade do ser humano entrar em processo de transformação
e superação. Transformação até daquilo que lhe foi dito e, que realmente, para
ele não está servindo mais. A evolução é caminhar para frente e não ficar preso
a um contexto, a um grupo, a uma verdade, a uma pessoa. Evolução é a
aprendizagem da maturidade emocional e da responsabilidade diante de uma nova
maneira de viver e de interpretar a própria vida.
Estamos
falando de mudanças de vida e isto requer abertura ao novo, ao desconhecido e a
flexibilidade de novos questionamentos sobre a própria vida e sobre si mesmo.
Pensando sobre isto me vêm as experiências com pessoas que estão em mudanças. Eles
diriam: Estou me conhecendo... E isto, é além de conhecer sobre uma patologia,
sobre um modo de ser. Eu sou mais do que falaram sobre mim, sou mais do que uma
categoria diagnóstica, sou mais do que comportamentos predeterminados, sou mais
do que olham para mim. Sou um ser que busca e que avanço sobre mim... Sou uma pessoa
que está disposta a aprender sobre mim e assim, sou livre. Livre para sentir
minhas emoções, se responsabilizar por elas e assumir minha singularidade na
vida cotidiana. No campo da dependência química há sim evoluções,
desconstruções, mudanças e muitas possibilidades promotoras de saúde. E isto
poderia ter peso, ser considerado não somente no que se refere ao tratamento,
mas, inicia-se a partir de uma visão sobre o próprio fenômeno das drogas. É
partir de uma mudança de paradigma, de uma determinada visão e leitura, que se possibilitam
outras mudanças... As mudanças se iniciam em nós...
Parabéns pela iniciativa Jorge.
ResponderExcluirAbraços
Vera Salce
Obrigado, querida Vera.
ResponderExcluirEstendo o seu parabéns a todo grupo Apamex. Principalmente, ao Fernando, que deu todo o apoio.
Abraços e um Feliz Ano Novo a você!