quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Dar e receber apoio


Neste mês de Setembro, refletimos sobre no 9º principio básico: o grupo do apoio.


Com isso, vamos compartilhar as reflexões do amigo Rubens Leite. Que é voluntário do Grupo CACO de Campinas. Nesta entrevista, ele mostra a sua vivência no Grupo de Pais com o 9º Principio Básico de Amor-Exigente, que diz: " Na comunidade as famílias  precisam dar e receber apoio."

(Revista Amor-Exigente) O que ensina aos pais o 9º Princípio Básico de AE?

(Rubens Leite) Acho que a idéia básica desse princípio em si não é de ensinar, mas sim, vivenciar. O grupo de apoio de AE inicialmente só esta lá para acolher aqueles pais que chegam aflitos com sua casa e sua vida sendo destruídas pelos problemas das drogas. Ninguém, nessas horas angustiantes da vida, pensa em outra coisa além de resolver o problema. É um momento muito confuso na vida e os pais só sabem que o grupo de apoio esta lá, como uma bóia salva-vidas no meio do oceano. Não têm a certeza de que lá vão resolver os problemas, mas instintivamente sabem que têm que freqüentar as reuniões, como talvez a sua única chance; assim como um náufrago desesperado que nada para a bóia e a agarra com todas as forças mesmo sem saber se vai se salvar. O grupo no momento do desespero é só o que temos e paradoxalmente também tudo o que temos. Por isso tantos cuidados com os que nos procuram pela primeira vez e pela segunda vez, com salas especiais exclusivas para eles. Somente na seqüência o grupo passa a ser o veículo que vai levar a vivência dos princípios de AE aos que em sua dor nele permanecem.

RAE -  Qual a sua experiência pessoal com este Princípio?

RL - Quando cheguei pela primeira vez ao grupo, buscava  desesperadamente alguém que pudesse me responder o que eu precisava fazer para meu filho parar de usar drogas. Já havia passado por muito sufoco, lido, consultado psicólogos, assistido palestras sobre o problema, feito promessas, rezado, benzido camisas, dado remédios... Por outro lado os desentendimentos com minha mulher e minha outra filha, ocasionados sempre pela droga e suas consequências, continuavam aumentando e pondo em risco de ruptura o relacionamento familiar. Não me restava muito mais a fazer. Cheguei no AE, numa noite de terça-feira em mais uma tentativa de encontrar uma solução para o problema de droga de meu filho. Na realidade naquele dia o que eu queria era resolver meu problema o mais rápido possível, ir embora e nunca mais ouvir falar em Amor-Exigente. No fundo da minha -até então desconhecida- co-dependência, eu era muito onipotente e presunçoso (ainda continuo sendo, só que menos) e como não ouvi no grupo nada do que estava esperando, só voltei na semana seguinte por falta de outra alternativa para meu problema e principalmente, porque o coordenador do grupo me disse que, seria preciso, freqüentar pelo menos seis reuniões para poder se ter uma idéia do programa de AE; e que desistindo antes, poderia perder uma grande oportunidade para atingir meus objetivos e melhorar de vida. Voltei e continuei voltando até hoje. Contei a minha mulher do que se tratava o grupo de apoio de AE e a trouxe para participar das reuniões. Ficou por um período, mas não permaneceu. Abalava-se muito com o sofrimento dos companheiros, chorava e se sentia oprimida. Continuei frequentando e tive seu apoio. Nós fomos mudando e nossa vida melhorando aos poucos. Sem perceber íamos ficando mais fortes. Um ajudando o outro, completávamos-nos em nossas fraquezas com muita paciência e fomos assim resgatando nosso lar e reconduzindo nossa família do nosso jeito. Hoje graças ao grupo de apoio e ao amor do 12° Princípio de AE, continuamos evoluindo, sendo pessoas melhores. Meu filho também está bem, é amado e busca seu caminho sem facilitação, com a família a seu lado, e nunca mais a seus pés.

RAE -  Como aplicá-lo no dia a dia?

RL - Os benefícios que a participação nos grupos de apoio traz para nossa vida são constantes, mas frequentemente inidentificáveis. Sim, pois a frequência às reuniões se traduz em fortalecimento da pessoa, que começa a agir, tomando decisões que aos poucos vão resgatando a autoconfiança e o controle da situação. Põem-se em prática os princípios de AE e sem perceber se está agindo afirmativamente. Porém a aplicação do que exercitamos no grupo vem com o tempo e vai se incorporando aos poucos no dia a dia. Por isso muitas vezes não associamos imediatamente essa transformação positiva de comportamento à frequência às reuniões. Como consequência disso há um significativo índice de abandono, pois chegamos ao grupo pela dor e assim que a aliviamos um pouco deixamos de  freqüentá-lo.

RAE - Por que é tão importante o grupo de apoio em momentos de crise, como vivem os familiares de dependentes químicos?

RL  - O grupo de apoio não tem a pretensão de ensinar nada para ninguém. Todos que dele participam, não importa o tipo de vida que levam, idade, sexo, religião, crença, ideologia, experiência, estão intimamente unidos pelo sofrimento comum infligido pela droga. É nesse ambiente que se desenvolve uma confiança entre pessoas que entendem intimamente o depoimento de seu companheiro por já ter sentido a mesma dor em situações muitas vezes similares. É no grupo que as crises são partilhadas e as soluções e erros encontrados são contados com a sinceridade de quem sabe que quem ouve entende seu problema. É assim que o grupo nos dá a oportunidade de achar nossa própria saída para as diversas crises que a droga leva para família.

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Manter o caráter de grupo leigo e voluntário




8º Princípio Ético

Para inaugurar a série de postagens de nosso Blog, temos o privilégio de refletir sobre a entrevista cedida por nosso Coordenador e amigo, Fernando Antunes Lima; por ocasião das reflexões feitas no mês de Agosto, sob o tema do oitavo princípio ético institucional: ‘Manter o caráter de grupo leigo e voluntário’.

Fernando é o nosso Coordenador do grupo Pinda, e também Suplente da Regional do Amor-Exigente no Vale do Paraíba/SP. Nesta entrevista, ele fala sobre a importância do 8º Princípio Ético de AE. Confira!

(Revista Amor-Exigente) O que ensina aos pais o 8º Princípio Ético de AE?

(Fernando Antunes lima) Para nós pais, este Princípio Ético vem  mostrar a importância  da cooperação voluntária, e não obrigada,  nas tarefas familiares. A cooperação é importante  para uma relação saudável, tornando uma família mais feliz, mais unida  e consequentemente uma sociedade melhor.

RAE - Como aplicar este Princípio no dia a dia?
FAL - No dia a dia devemos estar sempre nos policiando, principalmente nas reuniões,  para que a nossa formação profissional não interfira em nossa condição  de leigo e voluntário. Devemos nos colocar na mesma condição de igualdade para  que um possa ajudar o outro, mutuamente.

RAE -  Qual a sua experiência pessoal com este Princípio?
FAL - A experiência pessoal adquirida nestes oito anos de Amor-Exigente  foi de grande importância na minha vida,  me fez ver  algo que não tinha percebido antes, (talvez por egoísmo ou falta de empatia); o sofrimento, a dor, a alegria, a felicidade, são muito democráticos; não escolhem raças, não escolhem credos e nem classes sociais. Todas as pessoas sentem as mesmas coisas. Somos todos diferentes, mas, ao mesmo tempo iguais em nossas angústias e ansiedades.

RAE - Por que no grupo é importante manter o caráter leigo e voluntário?
FAL - O caráter leigo no grupo é muito importante   para que as pessoas sintam que estamos todos no mesmo barco remando para o mesmo lado, um emprestando o ombro ao outro sem julgamentos ou preconceitos. Todos têm problemas similares e assim podemos nos ajudar mutuamente. Devemos nos conscientizar de que somos leigos, mas muito competentes, estudiosos, atualizados e experientes  para lidar com o sofrimento humano. O caráter voluntário é importante pela sua característica de ser um conjunto de ações de interesse social e comunitário, ajudando quem precisa, contribuindo para uma sociedade mais justa e mais solidária, sem qualquer remuneração, mas, muito gratificante; ganhamos qualidade de vida, somos livres, servidores a serviço do bem e da vida. O trabalho voluntário é exercido de forma compromissada e séria, muitas vezes, necessitando de especialização, conhecimento de causa e profissionalismo naquilo que se propôs a voluntariar.

RAE - O que representa o caráter cooperativo e voluntário na família?
FAL - A cooperação  na família  é uma ação onde todos trabalham em benefício de todos proporcionando harmonia familiar,  respeitando os limites de cada um, a disciplina da casa, as regras do grupo e sabendo a responsabilidade de cada um.

RAE - Qual a importância dos Princípios Éticos no trabalho de AE?
FAL -  Os Princípios Éticos são meios orientadores para lidar com os Princípios Básicos no sentido de direção, organização, respeito a regras e normas,  comprometimento e fidelidade  com o programa. Mostram-nos de maneira responsável e ética,  o caminho para ações comportamentais, sem perder o foco da  proposta da Federação de Amor-Exigente, consolidada há 27 anos.

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