Dar e receber apoio
Neste mês de Setembro, refletimos sobre no 9º principio básico: o grupo do apoio.
Com isso, vamos compartilhar as
reflexões do amigo Rubens Leite. Que é voluntário do Grupo CACO de Campinas.
Nesta entrevista, ele mostra a sua vivência no Grupo de Pais com o 9º Principio
Básico de Amor-Exigente, que diz: " Na comunidade as famílias precisam
dar e receber apoio."
(Revista Amor-Exigente) O que
ensina aos pais o 9º Princípio Básico de AE?
(Rubens
Leite) Acho que a idéia básica desse princípio em si não é de ensinar, mas sim,
vivenciar. O grupo de apoio de AE inicialmente só esta lá para acolher aqueles
pais que chegam aflitos com sua casa e sua vida sendo destruídas pelos
problemas das drogas. Ninguém, nessas horas angustiantes da vida, pensa em
outra coisa além de resolver o problema. É um momento muito confuso na vida e
os pais só sabem que o grupo de apoio esta lá, como uma bóia salva-vidas no
meio do oceano. Não têm a certeza de que lá vão resolver os problemas, mas
instintivamente sabem que têm que freqüentar as reuniões, como talvez a sua
única chance; assim como um náufrago desesperado que nada para a bóia e a
agarra com todas as forças mesmo sem saber se vai se salvar. O grupo no momento
do desespero é só o que temos e paradoxalmente também tudo o que temos. Por
isso tantos cuidados com os que nos procuram pela primeira vez e pela segunda
vez, com salas especiais exclusivas para eles. Somente na seqüência o grupo
passa a ser o veículo que vai levar a vivência dos princípios de AE aos que em
sua dor nele permanecem.
RAE - Qual a sua
experiência pessoal com este Princípio?
RL -
Quando cheguei pela primeira vez ao grupo, buscava desesperadamente
alguém que pudesse me responder o que eu precisava fazer para meu filho parar
de usar drogas. Já havia passado por muito sufoco, lido, consultado psicólogos,
assistido palestras sobre o problema, feito promessas, rezado, benzido camisas,
dado remédios... Por outro lado os desentendimentos com minha mulher e minha
outra filha, ocasionados sempre pela droga e suas consequências, continuavam
aumentando e pondo em risco de ruptura o relacionamento familiar. Não me
restava muito mais a fazer. Cheguei no AE, numa noite de terça-feira em mais
uma tentativa de encontrar uma solução para o problema de droga de meu filho.
Na realidade naquele dia o que eu queria era resolver meu problema o mais
rápido possível, ir embora e nunca mais ouvir falar em Amor-Exigente. No
fundo da minha -até então desconhecida- co-dependência, eu era muito onipotente
e presunçoso (ainda continuo sendo, só que menos) e como não ouvi no grupo nada
do que estava esperando, só voltei na semana seguinte por falta de outra
alternativa para meu problema e principalmente, porque o coordenador do grupo
me disse que, seria preciso, freqüentar pelo menos seis reuniões para poder se
ter uma idéia do programa de AE; e que desistindo antes, poderia perder uma
grande oportunidade para atingir meus objetivos e melhorar de vida. Voltei e
continuei voltando até hoje. Contei a minha mulher do que se tratava o grupo de
apoio de AE e a trouxe para participar das reuniões. Ficou por um período, mas
não permaneceu. Abalava-se muito com o sofrimento dos companheiros, chorava e
se sentia oprimida. Continuei frequentando e tive seu apoio. Nós fomos mudando
e nossa vida melhorando aos poucos. Sem perceber íamos ficando mais fortes. Um
ajudando o outro, completávamos-nos em nossas fraquezas com muita paciência e
fomos assim resgatando nosso lar e reconduzindo nossa família do nosso jeito.
Hoje graças ao grupo de apoio e ao amor do 12° Princípio de AE, continuamos
evoluindo, sendo pessoas melhores. Meu filho também está bem, é amado e busca
seu caminho sem facilitação, com a família a seu lado, e nunca mais a seus pés.
RAE - Como
aplicá-lo no dia a dia?
RL -
Os benefícios que a participação nos grupos de apoio traz para nossa vida são
constantes, mas frequentemente inidentificáveis. Sim, pois a frequência às
reuniões se traduz em fortalecimento da pessoa, que começa a agir, tomando
decisões que aos poucos vão resgatando a autoconfiança e o controle da
situação. Põem-se em prática os princípios de AE e sem perceber se está agindo
afirmativamente. Porém a aplicação do que exercitamos no grupo vem com o tempo
e vai se incorporando aos poucos no dia a dia. Por isso muitas vezes não
associamos imediatamente essa transformação positiva de comportamento à
frequência às reuniões. Como consequência disso há um significativo índice de
abandono, pois chegamos ao grupo pela dor e assim que a aliviamos um pouco
deixamos de freqüentá-lo.
RAE - Por que é tão
importante o grupo de apoio em momentos de crise, como vivem os familiares de
dependentes químicos?
RL -
O grupo de apoio não tem a pretensão de ensinar nada para ninguém. Todos que
dele participam, não importa o tipo de vida que levam, idade, sexo, religião,
crença, ideologia, experiência, estão intimamente unidos pelo sofrimento comum
infligido pela droga. É nesse ambiente que se desenvolve uma confiança entre
pessoas que entendem intimamente o depoimento de seu companheiro por já ter
sentido a mesma dor em situações muitas vezes similares. É no grupo que as
crises são partilhadas e as soluções e erros encontrados são contados com a
sinceridade de quem sabe que quem ouve entende seu problema. É assim que o
grupo nos dá a oportunidade de achar nossa própria saída para as diversas
crises que a droga leva para família.
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