sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Campo da dependência química: evoluções, mudanças, reconstruções e novas possibilidades


Por Cláudia Fabiana de Jesus - clafaje@hotmail.com
Psicóloga e Mestre em Psicologia da Saúde


Vivemos o fenômeno das drogas na sociedade atual. Vimos alguns discursos sobre a mesma com foco ainda no terrorismo, na destruição, no mal e, muitas vezes, na impossibilidade de cuidar disto e de se realizar mudanças. Há um imaginário social da não credibilidade nas mudanças quando se trata do crack. Vemos na mídia e nas “verdades ditas” que não dá certo, o que não tem mais jeito, mostra somente o lado negativo, do que se falhou e das impossibilidades.

Vejo a partir de minha experiência neste campo, há onze anos, e acredito que deveria mostrar ou focar naquilo que está dando certo, em vez de focar patologias e no que parece impossível. As pessoas acabam acreditando que não tem mais jeito. Esta crença influência a própria pessoa e a sociedade como um todo. Há de se perguntar: o que se acredita nesta área? Qual é a referência de uma verdade sobre este assunto? Aquilo que eu acredito se torna verdade... Há muitas verdades ditas que se tornam verdades absolutas. “A pessoa que entra no crack morre”, é uma frase que não pode ser generalizada, como qualquer coisa na vida, pois as pessoas são singulares, tem sua subjetividade. E neste campo se observa que ainda há muita generalização, padrão estabelecido de comportamento, receitas prontas para se seguir e idéias pré-concebidas sobre o assunto.

As pessoas estão desesperadas e se fecham para novas maneiras de se indagar, e, talvez nem queiram, pois preferem o conforto de uma resposta pronta do que novas perguntas as quais ainda buscarei respostas. Querem ainda que o outro diga o que ela tem que fazer para ser feliz... querem ainda alimentar uma dependência. Ainda é necessário mais espaços de reflexão, é fundamental que o próprio sujeito se autorize a pensar sobre si mesmo e se questionar. È necessário que haja um espaço vazio, um espaço de silencio para que a pessoa reflita, e isso não é o que se vê. Há uma enxurrada de verdades e discursos prontos sobre o indivíduo, onde ele é quem mais escuta ao invés de falar de si, não somente sobre o que ele sabe dele, mas ter espaço para descobrir sobre ele. E é ele quem fará por isto.

Vejo as pessoas deixando de usar crack, vejo as pessoas que desejam mudanças fazer, realmente, mudanças em sua vida. Vejo as pessoas deixando de ter relação com a droga e voltando a ter relação consigo mesmo. Vejo as pessoas vivendo suas metas e se percebendo além das drogas, álcool e mergulhando no processo do autoconhecimento. Vejo mudanças nas vidas das pessoas, em meu cotidiano do trabalho, que cada vez me faz acreditar na capacidade do ser humano entrar em processo de transformação e superação. Transformação até daquilo que lhe foi dito e, que realmente, para ele não está servindo mais. A evolução é caminhar para frente e não ficar preso a um contexto, a um grupo, a uma verdade, a uma pessoa. Evolução é a aprendizagem da maturidade emocional e da responsabilidade diante de uma nova maneira de viver e de interpretar a própria vida.

Estamos falando de mudanças de vida e isto requer abertura ao novo, ao desconhecido e a flexibilidade de novos questionamentos sobre a própria vida e sobre si mesmo. Pensando sobre isto me vêm as experiências com pessoas que estão em mudanças. Eles diriam: Estou me conhecendo... E isto, é além de conhecer sobre uma patologia, sobre um modo de ser. Eu sou mais do que falaram sobre mim, sou mais do que uma categoria diagnóstica, sou mais do que comportamentos predeterminados, sou mais do que olham para mim. Sou um ser que busca e que avanço sobre mim... Sou uma pessoa que está disposta a aprender sobre mim e assim, sou livre. Livre para sentir minhas emoções, se responsabilizar por elas e assumir minha singularidade na vida cotidiana. No campo da dependência química há sim evoluções, desconstruções, mudanças e muitas possibilidades promotoras de saúde. E isto poderia ter peso, ser considerado não somente no que se refere ao tratamento, mas, inicia-se a partir de uma visão sobre o próprio fenômeno das drogas. É partir de uma mudança de paradigma, de uma determinada visão e leitura, que se possibilitam outras mudanças... As mudanças se iniciam em nós...

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domingo, 23 de dezembro de 2012

Espiritualidade para o Natal


A tradição cristã tem como ponto culminante do Natal a encarnação de Cristo, ou, Deus entre os homens. Revelando-se assim, o Emanuel, o Deus conosco (Mateus 1.23). O Deus que caminha junto com a humanidade. Que não somente a cria e conduz toda a sua história, mas principalmente, participa dela; sentindo suas dores, sua fadiga, suas necessidades e conflitos bem de perto, mais exatamente, em sua própria carne, e fazendo disto sua missão, dizendo: “... o próprio Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Marcos 10.45).

O Natal nos revela em forma de memorial, celebrativo e festivo, o Deus que desce, desce das alturas celestiais para humanidade, toma a forma humana como prenuncio, de também tomar as suas dores, e assim, intervém em sua história, a fim de resgatá-la de seu sofrimento.

O Natal demonstra que Deus como criador, não deixou a humanidade alheia e entregue a sua própria sorte; mas antes, interveio concretamente em sua trajetória, tomando sua forma e disposto a salvá-la.

Por meio do nascimento de Cristo, Deus não desceu até a humanidade apenas em linguagem antropomórfica, mas, veio em carne, nasceu como criança, viveu como homem, encarnando não somente nossa forma, mas também, o sofrimento de nossa humanidade, tomando sobre si nossas dores e transgressões, e nos dando gratuitamente sua paz. (conforme Isaías 53 e 1Pedro 2.22-25).

Assim, por meio do menino que nos nasceu (Isaías 9.6), o Emanuel, o Deus conosco, temos a certeza de que não estamos sós. Deus caminha ao nosso lado durante toda nossa jornada, e disso deu provas por meio do caminho de Emaús, demonstrando que mesmo depois de ressuscitado, ele caminha ao lado. (Lucas 24.13-31); paciente, benigno, atento aos nossos questionamentos, sempre pronto a esclarecer, amigo sempre pronto para a comunhão e a partilha do pão.

Assim, o Natal revela que Deus, o Cristo, veio até nós e está no meio de nós, partilhando desde nossas dores e sofrimento, até nossas virtudes, de forma tão vívida que pode dizer: “... tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me hospedastes; estava nu, e me vestistes; enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me.” (Mateus 25.35-36).

Portanto, o Natal nos traz o profundo significado da vinda de Deus até nós e por isso dia de grande alegria (Lucas 2.10), trazendo a certeza de que Deus não somente conduz a história da humanidade, mas também, participa dela, caminhando ao seu lado e trazendo-lhe a salvação. 

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segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Pe. Haroldo e o 12º princípio básico: O Amor.



Por Pe. Haroldo J. Rahm, S. J.

O noivo bateu à porta da noiva.  “Quem é?”, perguntou ela.  “Sou eu”, ele respondeu.  Ela falou:  “Vá embora”.  Após pensar muito, ele bateu outra vez; e ela perguntou: “Quem é?”.  O noivo respondeu:  “Sou você!”.  Ela disse: “Entre”.  Quando pensamos que nós somos o outro,  ficamos unidos nessa transparência de amor e na verdade verdadeira.

Um padre tinha duas notícias para seus paroquianos:  uma boa e uma má.  A má notícia era sobre as goteiras na igreja, e a boa era que havia o dinheiro para os reparos; então ele disse:  “O dinheiro está em seus bolsos”.  Com amor damos o que temos. 

Ouvistes que foi dito:  Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo.  Eu porém vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; deste modo vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus, porque ele faz nascer o seu sol igualmente sobre maus e bons e cair a chuva sobre justos e injustos.  Com efeito, se amais aos que vos amam, que recompensa tendes?  Não fazem também os publicanos a mesma coisa?  E se saudais apenas os vossos irmãos, que fazeis de mais?  Não fazem também os gentios  as mesmas coisas?  Portanto, deveis ser perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito.  (Mt 5, 43-48)
O amor com respeito, sem egoísmo, sem comodismo deve ser também um amor que orienta, educa e exige.

Amo você, só não aceito o que você está fazendo de errado.  Amar não é fazer tudo pelas pessoas ou dar-lhes tudo o que é possível.  Amar é essencialmente dar condições para que saibam escolher o que é correto e bom para si próprios e para os outros.

Evitar divergências e disputas de poder entre as lideranças dos grupos de Amor-Exigente.
Irmãos, se acontecer a alguém ser surpreendido em falta, a vós, os espirituais, compete corrigi-lo com espírito de mansidão; acautela-te contigo mesmo:  tu também não podes ser tentado? (Gl 6,1)

Um perito falou:  Livros não mudam o mundo.  Quem muda o mundo são as pessoas.  Livros só mudam as pessoas.  E adiciono eu, que o amor é muito mais importante!



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Feliz Natal!!


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